Tereza Cristina, ministra da Agricultura, concedeu entrevista ao Pleno.News e também falou sobre gafanhotos e Covid-19 em frangos
A ministra Tereza Cristina divulgou um vídeo nesta terça-feira (25) comemorando a produção recorde de grãos brasileiros. Ela revelou que as perspectivas futuras também são promissoras, com a expectativa de uma safra de 278,7 milhões de toneladas de grãos na safra 2020/21, o que representa aumento de 8%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento.
Em entrevista ao Pleno.News, ela abordou as ações do governo federal durante a pandemia e explica como foi possível chegar a uma marca histórica e cumprir sua promessa de não deixar faltar comida aos brasileiros durante a quarentena.
Qual foi a área do agronegócio mais afetada pela pandemia do novo coronavírus?
Neste período da pandemia houve aumento de produção agropecuária, das contratações de crédito rural – inclusive para investimentos – e das exportações. Cenário esse que evidencia que o setor foi relativamente menos afetado em relação a outras áreas da economia nacional, com a exceção de segmentos específicos, assegurando a continuidade do pleno abastecimento do mercado interno em todas as regiões do país. Mas há segmentos que foram mais afetados pela diminuição da atividade econômica, entre eles, os de flores e o sucroenergético.
No caso das flores e das plantas ornamentais, logo no início, em 30 de abril, o Comitê para Acompanhamento da Covid-19 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), estruturado para monitorar os efeitos da pandemia, emitiu uma recomendação para o funcionamento das atividades relacionadas à comercialização desses produtos. Decisão essa que estava vinculada à manifestação das autoridades estaduais e municipais para que pudessem, no âmbito de suas competências, viabilizar tais flexibilizações de comércio desse segmento (floriculturas e garden centers). Essa ação possibilitou o funcionamento desses estabelecimentos nos dois feriados mais importantes para o segmento – Dia das Mães e dos Namorados – contribuindo para a recuperação econômica.
E essas ações ajudaram os comerciantes locais?
Essa recomendação estava relacionada à necessidade do funcionamento dessa atividade, de grande importância para economias locais, à tomada de medidas de segurança já recomendadas para outras atividades do setor agrícola, consideradas essenciais neste momento de crise. São medidas baseadas nas orientações gerais do Ministério da Saúde e da Anvisa e contém recomendações, dentre as quais, a necessidade do fornecimento de estrutura para higienização, proteção facial e distanciamento mínimo entre pessoas.
No caso da área de sucroenergético (biodiesel e álcool combustível) foram desenvolvidas linhas de incentivo ao armazenamento desses produtos, resultado de ações do Mapa e do Ministério da Economia. Com um custo menor de armazenamento, tal medida possibilitou um “fôlego” maior para as usinas estocarem tais produtos nesse momento de crise.
Como o governo federal atua para minimizar os impactos?
As primeiras ações do Mapa foram a criação de um comitê de crise para monitorar os impactos da pandemia e a publicação de uma portaria detalhando as atividades essenciais para garantir o funcionamento do setor. Também foram elaboradas recomendações técnicas para diversos setores com diretrizes na prevenção da contaminação nos locais de processamento, beneficiamento, transporte e comercialização dos produtos.
Além disso, foram elaboradas recomendações para o funcionamento de setores como frigoríficos, transporte de alimentos, colheita, feiras e sacolões. Nosso esforço, não só do Mapa, mas também de todo o governo federal, foi e tem sido de trabalhar para que o setor não parasse e continuasse a ofertar alimentos de qualidade para todos os brasileiros. Imagina faltar alimentos nas prateleiras dos supermercados neste momento?
No início da pandemia, a senhora comentou que não deixaria faltar alimento para os brasileiros. Esse objetivo foi cumprido?
De um modo geral, o Mapa teve sucesso em garantir o suprimento de alimentos à sociedade brasileira e em manter a fluidez do intercâmbio comercial. Ainda que em meio à uma crise de saúde, o Brasil vem conquistando recordes: as exportações cresceram 10% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período de 2019, e totalizaram 61 bilhões de dólares. Alimentamos nossos 212 milhões de habitantes e exportamos para alimentar mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. A abertura de novos mercados foi imprescindível para manter o crescimento das vendas externas e diversificar a pauta, reduzindo a dependência da soja e das carnes.
E as exportações de produtos, como ficaram?
Entre 2019 e 2020, foram abertos 85 mercados em 28 países diferentes, com a diversificação de produtos e destinos para o comércio do país. Como, por exemplo, o castanha de baru e chá mate para Coréia do Sul; peixes para Argentina; castanha do Brasil para Arábia Saudita, entre outros. Entre os produtos que passaram a ser exportados, estão laticínios (queijo, iogurte e leite em pó) para a China, castanha de baru e chá-mate para a Coreia do Sul, peixes para a Argentina, castanha para a Arábia Saudita e gergelim para a Índia.
Esse cenário produtivo e comercial que hoje conquistamos nos habilita, com consistência, a antever um futuro promissor. A projeção para a próxima década são as melhores. A produção de grãos do Brasil deverá aumentar 27%; a de carne bovina, 16%; a de carne suína, 27%, e a de carne de frango crescerá 28%. Apesar da ocorrência da pandemia da Covid-19, que afetou a trajetória da economia nacional ao longo deste ano e atingiu algumas atividades agropecuárias, como aquelas já citadas acima e outras como das hortaliças, frutas e leite, a safra de grãos e a produção e a distribuição de carnes bovina, suína e de aves não foram afetadas.
Neste trabalho de projeção para os próximos 10 anos, o Brasil vai saltar dos atuais 253,7 milhões de toneladas estimadas para 2019/20 para 318,3 milhões de toneladas. Algodão, milho de segunda safra e soja devem continuar puxando o crescimento da produção de grãos.
No começo deste mês, autoridades chinesas afirmaram que encontraram traços de Covid-19 em carregamentos de frangos do Brasil. Como avalia essas informações?
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ainda não foi notificado pelas autoridades chinesas e nem das Filipinas. O Mapa ressalta que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há comprovação científica de transmissão do vírus da Covid-19 a partir de alimentos ou embalagens de alimentos congelados.
E as nuvens de gafanhotos que ameaçavam o Sul? Essa ameaça continua monitorada?
Sim. O monitoramento da movimentação das nuvens tem sido realizado por meio do acompanhamento diário junto ao Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa) e ao Serviço Nacional de Qualidade e Sanidade Vegetal e de Sementes do Paraguai (Senave), além da manutenção de equipes de vigilância na região fronteiriça no estado do Rio Grande do Sul, compostas por auditores fiscais federais agropecuários do Mapa e da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (Seapdr/RS).
Numa eventual entrada de nuvens de gafanhotos no Brasil, deverão ser adotadas as ações de controle previstas no Plano de Supressão da praga estabelecido por cada órgão estadual de Sanidade Agropecuária, a partir do Manual de Procedimentos Gerais para controle da Schistocerca cancellata no Brasil.
As lavouras brasileiras precisam enfrentar muitas pragas, mas já tinha enfrentado uma grande como essa?
Esta praga está presente no Brasil desde o século 19 e causou grandes perdas às lavouras de arroz na região sul do país nas décadas de 1930 e 1940. Desde então, tem permanecido na sua fase “isolada” que não causa danos às lavouras, pois não forma as chamadas “nuvens de gafanhotos”, mas isso voltou a acontecer recentemente.
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